terça-feira, 7 de julho de 2009

Trânsito, Vidas, e Cidadãos

Em qualquer parte de qualquer cidade, sempre haverá conversas relativas ao Trânsito!
Seja por um acidente visualizado, seja por uma conversa entre amigos onde um deles viu ou ouviu fatos sobre alguma determinada situação envolvendo o trânsito, seja por uma notificação que alguém ganhou... o assunto Trânsito sempre estará na pauta! O homem nasce após um deslocamento no trânsito - quando a mãe é levada à maternidade, por exemplo - e quando finda sua jornada, é levado até sua última morada por um carro fúnebre. O uso das vias públicas foi necessário para trazer a vida, e da mesma forma para encerrar, sem falar daqueles que morrem diretamente na estrada, sem opção de fazer uma "penúltima viagem" até um Pronto Socorro.
Uma pesquisa realizada pelo IPEA -Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - em onze países aponta o Brasil como sendo o primeiro colocado por mortes violentas, nelas incluídas as morte no trânsito, assassinatos, e outras. Infelizmente, o país ainda ocupa a primeira posição mundial com mortes no trânsito, chegando oficialmente próximo a 60.000 casos. Muitas cidades brasileiras ocultam informações sobre os óbitos, ou não consideram vítimas fatais de acidente de trânsito aqueles que falecem durante o deslocamento aos pronto-socorros ou após dar entrada na unidade de saúde. Vítimas fatais de acidente de trânsito são aquelas que falecem no local do acidente, no deslocamento ao atendimento de urgência, ou em até 30 dias após a ocorrência.
As pessoas se espantam quando ouvem notícia sobre a queda de aviões, como é o caso do vôo 1907 da empresa aérea Gol, em dezembro de 2008. Isso assusta a população porque são casos isolados, que raramente acontecem e com proporções de vítimas tão grandes. Mas se fôssemos comparar o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito em um ano, seria equivalente a uma queda diária do mesmo avião, com o mesmo número de passageiros, ou seja, 155 pessoas por dia, seis vidas por hora. Assim, ao final de mais um macabro ano de estatísticas, teremos aproximadamente 56 mil mortes nas estradas.
As pessoas também acham normal quando falamos que "alguém" morreu atropelado. Ora, atravessar uma rua é coisa tão primitiva quanto a invenção da roda! Naqueles tempos, no período denominado Proto-História, cerca de 4000 anos a.C., o homem já fazia seus carros de duas ou mais rodas susbstituindo os trenós de tração humana ou animal e surpreendia quem atravessasse seu caminho, atropelando-o. Inacreditavelmente, nos dias atuais e com todos os avanços tecnológicos, ainda temos uma grande parcela de vítimas em atropelamentos.
As vidas perdidas no trânsito não podem ser admitidas com tanta facilidade. É inadmissível que um cidadão saia de casa com sua saúde perfeita, seja para estudar, trabalhar, se divertir, e não volte mais para casa. Os custos de um acidente de trânsito com óbito podem passar de 30 mil reais por vítima; esse dinheiro, jogado no ralo dos governos, poderia ser aplicado em educação, laser, atividades esportivas, saúde, moradia, e tantas outras dificuldades encontradas para a sobrevivência do brasileiro, previstas na Constituição Federal mas não são cumpridas.
Apesar do assombro causado por um acidente de trânsito, e que geralmente é causado por uma atitude imprudente, punível com multa e pontuação na CNH do infrator além de outras medidas administrativas, o então senador e atual ministro das Minas e Energia Edison Lobão, encaminhou projeto de lei pedindo que aumentasse de 20 para 30, o número de pontos para que motoristas profissionais tivessem seu direito de dirigir suspenso, alegando que "a classe está mais exposta a fiscalização que os demais motoristas!" Irônico? Nem tanto!
Se compararmos essa tentativa de enfraquecer o CTB com a ridícula Lei nº 11.334/2006, veremos que outro grande fator que movimenta e causa incômodo aos poderosos é a questão da fiscalização severa. Abrandou-se o excesso de velocidade para facilitar a vida do cidadão apressado mesmo sendo comprovado que a velocidade é o principal fator de acidentes de trânsito em rodovias brasileiras. Aliada à bebidas alcoólicas, drogas, ou simplesmente a imperícia de muitos motoristas, a velocidade torna-se um instrumento extremamente perigoso, que tira vidas em questão de segundos.
As cidades não foram feitas para os veículos, foram feitas para as pessoas! Os verdadeiros donos das cidades são as pessoas, e não seu luxuosos ou humildes veículos. Calçada não é lugar para estacionar veículos para ouvir música nos finais de semana, lavar o mesmo, mostrar pra vizinhança. Calçada é uma área de circulação de pedestres, e deve ser sempre bem conservada pelo proprietário do lote. Imaginemos uma calçada linda, de pedras, e um lindo veículo estacionado sobre ela, interrompendo totalmente a passagem de pedestres e veículos não motorizados; imagine que sua vizinha - recém mamãe! - precisa passar em frente a esta calçada para chegar ao mercado, onde comprará fraldas para o seu bebê, que a mesma transporta dentro do carrinho, dormindo. Pelo fato daquele veículo estar sobre a calçada, ela posiciona o carrinho na faixa de circulação dos veículos. Imaginemos agora, outro veículo, desgovernado, passará muito próximo à guia da calçada, não bate no carro, mas atinge mãe e filho... E agora? Coloque-se no lugar desse motorista ao ver mãe e filhos mortos, devido a incompetência de um cidadão que estacionou ou parou seu veículo majestosamente sobre a calçada!
Nesses casos ou em casos semelhantes, a Justiça deve ser implacável, e punir severamente os responsáveis pelos danos, independente da condição social, física, financeira, ou seja ela qual for.
Se a velocidade praticada nas vias já é um fatos gerador de acidentes graves e punida com multas pesadas, imagine a punição para o "rachadores", aqueles que praticam corridas na rua? Sem contar os rachas, os veículos desses competidores frustrados geralmente estão cobertos de modificações de características originais, o que potencializam os acidentes. E essas modificações também são amparadas "legalmente" pela lei! Pergunta-se aos legisladores, se estes já experimentaram sair de suas confortáveis salas para observar de perto como se comporta um veículo com suspensões rebaixadas? Garanto que não!
Outras perguntas interessantes: O aval para a modificação das suspensões do veículo garante uma condição de dirigibilidade segura, mesmo nas curvas ou em estradas defeituosas? Como um veículo pode ter seu espaço entre o para-lamas e o pneu seguro, se este mesmo espaço será diminuído, acarretando em dificuldade para realizar curvas? Os freios terão a mesma eficiência quando acionados, sem interferir em outro mecanismo direta ou indiretamente? Será que, de tão difícil essa questão, os legisladores não conseguiram pensar?
Com o passar do tempo, vamos percebendo que as leis vão enfraquecendo, que o sistema vai se infiltrando gradativamente fazendo com que a legislação se adeque ao jeito de dirigir do cidadão e não contrário, pois o motorista sim deve mudar seu modo de conduzir e adequar-se as leis.
Caso seja, teremos em breve um exército de mutilados, traumatizados, mortos, esquecidos pela legislação, mas que continua pagando um preço altíssimo pelos erros de motoristas imprudentes, amparados por um lei que, nasceu assustando, vive de muletas, e vai acabar sendo só mais um livro na estante...

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